A PRESENT FOR THE PRESIDENT
História em Quadrinhos
CRIAÇÃO,TEXTOS E DESENHOS POR: Saulo Veiga Morales
Título: "
um presente para o presidente"
um presente para o presidente"
Prólogo:
Estava sentado em uma cadeira de pernas cambaleantes na frente de uma mesa de vidro ensebada, onde o meu rosto refletia distorcido e o aspecto era assustador, mesmo descontando a minha feiúra natural . A sala era mal iluminada por um velho e perigoso lampião á querosene e o cheiro irritava a minha garganta, os pulmões e ressecava a saliva de minha boca...a fumaça venenosa parecia atingir até o meu espírito. Tive um acesso de tosse, e tentei amenizar, levando as mãos em forma de concha na direção da boca . O meu vulto se agigantou pelas frestas das paredes de pintura descascada e tremulou , quando uma lufada de ar inesperado entrou pelo vidro rachado do lampião. Bebi de um só gole o resto de cachaça que ainda restava na garrafa .
Não queria acordar os meus dois filhos e a minha esposa, que talvez estivessem fingindo estarem dormindo. E mesmo que os seus gemidos parecessem mais como gemidos de dor , eu sabia que era de fome . Não tenho dúvida de que , naquele momento , um deles estava reprimindo o choro e uma lágrima silenciosa escorria pelo seu rosto , como eu vi uma vez , ao entrar subitamente no quarto.
Absorto , tento desesperadamente pensar em uma saída imediata para acabar com o sofrimento , ante a discriminação social e a dizimação do "ser inferior", como os políticos e as elites chamam os pobres, mas não consigo me concentrar nem por dois minutos. Chego a conclusão de que nada fiz de concreto em minha existência até a escura noite de hoje, à não ser, ficar parado como estou agora nesta maldita sala suja , sem trabalho e aceitando tarefas escusas impostas pelos poderosos, eles nos escravizam o corpo e a alma para obter alimento e sobreviver , junto com as nossas famílias.
Não tenho luz elétrica há quase um ano e meio , meus filhos e a minha esposa tomam banho gelado em pleno inverno e não consigo trabalho há mais de dez anos, por isso não consigo pagar a conta de luz e nem de água . Eu acreditei e ingenuamente , votei em governos e mais governos que prometiam , gritavam em seus palanques , nos canais de televisão e até vinham na favela abraçar os pobres ( mesmo que depois ,fossem flagrados lavando as mãos com álcool e perfumes caros ) . Diziam que implantariam programas de empregos para nós e para os jovens, e os jovens já estão ficando velhos sem nunca terem trabalhado ... o que esperam esses malditos políticos??? Nesse país , as elites dormem tranqüilos sobre seus colchões de dinheiro e estão pouco se lixando para os pobres , estes , dormem ao relento das ruas e nos barracos das periferias e muitos morrem de fome e frio. As elites vivem em festejos luxuriantes , arrotam champanhe importada e caviar e matam , exploram , seviciam os menos favorecidos e ainda por cima , são defendidos pela justiça porca e corrupta. O clamor do povo ainda é imperceptível , mas a cada momento a classe dos abastados serão surpreendidos dentro de suas próprias mansões, tidas como "bunkers" seguros.
Debruçado sobre a mesa e com as mãos sustentando o meu rosto, olho para a porta entreaberta do quarto e não consigo evitar que uma lágrima salgada escorra pela minha face. Uma vertigem sobe e tremula pelo meu peito até a minha cabeça. Estou sentindo muito ódio e de repente, surgem como cenas de um filme sem cor e confusas, imagens e lembranças do meu passado , desde a minha tribulada infância até o momento atual e não menos confusa realidade...balanço a cabeça e vejo no vidro sujo das mesa, o vazio de toda a minha existência ,embaçada no brilho do líquido fedorento da cachaça caído na mesa.
Essa rotina viciante e alienada, se tornou a minha "doença" , confundiu a mente e me tornou um esquizofrênico . Meu estômago está roncando de fome, como está os estomagos de meus filhos e o da minha esposa . Não , não posso esperar mais ... caminharei pelas ruas dessas cidades malditas , desse País corrupto, até que encontre alguma coisa para eles comerem. Então , levanto e tropeço em uma maldita vassoura , tateio no escuro da cozinha ,fétida pelo lixo acumulado nos saquinhos de supermercados e encontro o lavabo , encho um copo de água e vou até a janela, afasto vagarosamente as cortinas esfarrapadas e vejo os 'Chacais", vagabundos da noite , quase ocultos nas sombras e pela neblina cerrada. Estavam rondando os moradores incautos que se expunham á noite . Eu sei que eles desejam o meu sangue, o nosso sangue... são empregados dos traficantes que escolhem apartamentos para assaltarem . Os olhos faiscantes dos "Chacais" brilham no escuro da noite... são iguais brasas tremulando no vento... espreitam , espreitam durante horas e horas . Apago o lampião com um sopro forte, armo uma armadilha de pregos na porta de entrada e na janela da cozinha e fico alguns minutos observando a montanha de lixo amontoada em torno do bloco de quitinetes . A favela está silenciosa, á não ser pelo latido alucinado dos cães e os assovios dos marginais , enviando "senhas" de comunicação entre eles. Olho o cãozinho vira lata que dorme junto a porta , pois é ele que alerta quando algum estranho está subindo as escadas . Ando vagarosamente até o quarto imundo, com cheiro de umidade e bolor , tateio a procura da minha jaqueta de couro preta , coloco-a , ajusto uma touca cinza com o símbolo "xavante"na cabeça , pego os óculos escuros e abro a janela dos fundos , sem ruídos. Nesse momento eu rompi a tênue linha que dividia a sanidade e a loucura . Coloco a minha mochila nas costas, olho para os meus filhos e para a minha mulher, digo ( mentalmente) que já volto , chego na janela dos fundos abro-a e pulo do segundo andar , não antes de me dependurar e fechar novamente , senti a altura do terreno e pulei . Caí em cima de um capinzal alto e de um saco de lixo . Olhei para os lados e vi , na penumbra de uma garagem , os "Chacais" ...estavam de costas para mim e não viram quando saltei , se eu quisesse, "Pá!". Lentamente , me esgueiro pelas paredes e percorro as vielas imundas da minha rua . Imagino que estou entrando nos subterrâneos e labirintos escuros de um cérebro , tal era a escuridão do bairro. A cada dejeto ou poça de água que piso inadvertidamente , vêem-me ânsias de vômito e o estômago está vazio . Blasfemo e me engasgo com as palavras obscenas que explodem com muita raiva . Caminho trôpego e atravesso um beco escuro, onde somente o brilho de uma estrela reflete nas poças de urina , fezes e cacos de garrafas quebradas .Parece ser o fim da rua , ouço o ruído dos galhos das árvores raspando,uns sobre os outros , impulsionados por uma brisa repentina que novamente se desvanece, só fica o silencio . A cada passo , amasso o maço de cigarros entre os dedos no bolso da jaqueta , então chuto sem querer , alguns sacos de lixo podre... uns estouram , deixam sair a pressão e rasgam . Preciso chegar até a zona norte da cidade, mas tenho que ter muito cuidado para sair do bairro, onde o ser humano não vale uma unidade de "real". Um gato preto saltou na minha frente e saiu em disparada, fazendo disparar também o meu coração. Neste momento a linha da minha insanidade tornou-se bem mais tênue e lembrei de um ditado ao qual eu mesmo havia inventado ; " Nós , humanos, somos como bolhas de sangue flutuando mansamente em torno de uma roseira espinhenta".Caminho rente a um muro velho e já avisto a rua principal e de repente , sinto um calafrio no corpo inteiro e os meus cabelos arrepiam , era como se fosse um alerta de perigo inesperado e iminente. Com a mão direita crispada no punho de minha pistola 7.65 , chego a forçar o bolso e o forro furado da jaqueta, engatilho e passo pé –ante –pé por uma grande aglomeração de árvores . Aponto na direção incerta das sombras , mas nada acontece. Quando estava colocando a arma no bolso, o latido ensurdecedor de um cão me fez saltar para trás , quase caindo no chão . Contive a surpresa e mentalmente me refiz, ele estava a uns cinco metros de mim, engatilhei novamente e num momento de raiva e loucura , atirei...uma ... duas ...três vezes. O cão voou para o alto e sumiu sem dar nem mais um latido . Senti no rosto uma fina névoa de sangue e cuspi para o lado. Nesse momento escutei vários gritos abafados vindo dos apartamentos sujos da favela. Insultavam-me , mas ninguém teve a coragem de acender sequer uma luz ou abrir uma janela qualquer . Gritei : - ' Vão dormir, cambada de filhos da mãe! Apressei o passo na direção da pracinha, em frente de um posto policial abandonado ,acendi um cigarro e na penumbra da rua perto de uma mercearia , junto a uma lixeira ecológica, tropecei em um mendigo que estava agachado. Ele vestia uma capa maltrapilha e usava chapéu , recolhia sobras de alimentos da lixeira entreaberta . quando ele se virou para me olhar , notei que da base do nariz para cima , seu rosto estava completamente escuro e nem mesmo um brilho sequer saia de seus olhos, mas do canto de sua boca, escorria uma gosma , de alguma coisa que ele encontrara no lixo para comer. Ao passar ao seu lado , uma espessa nuvem de fumaça saiu por debaixo de seu chapéu apodrecido . Estava fumando um charuto feito de palha ,escondido na mão em forma de concha. Escutei uma voz que mais parecia ter vindo das profundezas da morte; "- Quando o maluco voltar do outro lado, vai sentir como se aqui não é mais o seu lugar "! Buenaventura !Depois de alguns segundos de paralisia total , tentei indagar sobre o que aquele homem velho estava tentando me dizer , mas ele já estava um pouco distante . Tossia sem parar ,seguido de perto pela fumaça intensa do charuto e pelo seu cãozinho magricela , puxado pelo pescoço por uma corda que quase o enforcava. Virei para retomar o caminho e seguir adiante até o meu objetivo planejado ...a estrada seria a minha parceira por muitos e muitos dias . Eu moro em uma cidade ao sul do Rio grande do sul, no extremo desse país assolado e atolado na corrupção e na violência . A discriminação e a injustiça social havia chegado ao extremo , enquanto isso , os governantes diziam que esse é um país próspero e desenvolvido, onde não existe desnível social. Contam arrecadações absurdas de impostos, enquanto que oitenta por cento da população são de pobres , sem futuro. Sem estudo e sem emprego, rastejam pelas favelas mendigando alimentos e vinte por cento das elites ricas ,vivem se banhando em champanhe e saboreando seus manjares nababescos. Riem pela esperteza de terem enganado os menos favorecidos de inteligência e chamam os pobres de" ignorantes inferiores". Agora já nada mais me importa . A cada passo que me distancio da minha casa, aumenta o desejo de alcançar o meu objetivo, então caminho na direção da loucura total, mas o meu olhar agora perdeu o brilho e a emoção roda dentro do meu cérebro sem rumo e se despedaça e ando como um zumbí ...nada pelo que chorar , nada pelo que viver,à não ser cumprir a minha missão . Faço uma nova revisão na mochila onde coloquei dois pares de tênis, um cobertor de lã , duas calças , uma jaqueta um estojo de lápis e a minha eterna " parceira" . Á vinte quilômetros da cidade , paro e olho prédios envoltos pela bruma da manhã . A cada momento sinto a garganta embargar com um grito que tenta sair do fundo de minha alma . Não sei se é de ódio ou da sensação de um vazio emergido da liberdade total...que liberdade é essa que não me faz sentir feliz? ...pergunto a mim mesmo. Durante todo o dia , milhares de carros e caminhões passam por mim e nenhum deles parou para me dar carona. A noite chegou fria e com neblina e pela primeira vez senti-me solitário como se o mundo inteiro tivesse esquecido da minha existência . Por alguns momentos (em minha mente) , eu não sabia onde estava e o que estava fazendo no meio daquela relva úmida e encostado em uma pedra , com fome e gripado ...então comecei a chorar compulsivamente. Não lembrava da minha família e nem quem eu era, antes da última curva da estrada. Sentei na grama e aos poucos , minha memória começou a voltar e as recordações de todas as passagens da minha vida, embaralharam-se em meu cérebro. O meu objetivo ainda estava à mais de dois mil quilômetros de distância de mim, então adormeci novamente na beira da estrada. A vila da comunidade de Cristal amanhecera envolta em uma intensa neblina e somente a fumaça branca de algumas chaminés, mostravam que ainda poucos moradores estavam acordados . Arrisquei bater na porta de uma casa humilde onde nem mesmo um cão que estava encolhido dentro de uma caixa, me viu chegar. O dono da casa estava de costas voltadas para a porta de entrada e para mim,levou um grande susto quando pigarreei. Ele quase deixou cair a cuia de chimarrão a qual usava para sorve o mate e gaguejou;_ Quê?!... Quem é o senhor?...O que quer? _ Não se assuste! Respondi. –Desculpe, mas o senhor não teria uma caneca de café quente para me dar ...por favor!estou com muito frio.Eu dormi na rua e estou congelado...por favor senhor1 Acho que o bom homem viu que eu estava com roupas novas e deve ter pensado que eu não poderia ser um marginal ou algo parecido...sei lá1 Ele me serviu um chimarrão quente e ficou fazendo o café enquanto fazia também várias perguntas que o momento pedia.Os outros familiares , ao escutarem aquela estranha conversa na sala , nem tiveram coragem de aparecer. _ O senhor me desculpe não convidá-lo para entrar mas entenda a minha situação...não é por nada não, afinal né tchê?_ Não, não respondi calmamente e com a voz denotando agradecimento, disse-lhe; -O senhor é um homem bom e o café estava ótimo! Meu corpo já esquentou e já vou colocar pó pé na estrada, porque a viagem é longa. _Bom dia e muito obrigado meu amigo! O bom homem que deveria ter uns sessenta e poucos anos despediu-se com um" Deus te proteja"!e prossegui o meu caminho, coloquei os pés no asfalto e o horizonte pareceu sumir de mim novamente. Acendi um cigarro de maconha , dei uma baforada e caminhei na direção da próxima cidade. A minha mente estava vazia das recordações e até senti um arrepio de felicidade...talvez o céu azule a brisa morna da manhã ,estivesse fazendo efeito sobre mim. As vezes as recordações da minha família me faziam esitar e quase voltava o meu corpo ao contrário para desistir , mas alguma coisa muito forte me empurrava para a frente. Não mudaria o mundo , mas o mundo inteiro iria me conhecer no final da minha viagem. Cansado , com fome e angustiado resolvi parar e sentar na beira da estrada. Meus pés doíam muito e eu estava mergulhado em um grande conflito interno .Não tinha como voltar atrás na minha missão e para tudo que eu fizesse de bom ou de mau,eu já estava sendo julgado... agora não podia desviar o meu rumo e nem evitar o objetivo traçado .
A buzina estridente de um caminhão me fez saltar do fundo de minha abstração mental e assustado , escutei a freada e o veículo parando no acostamento. _ Qué uma carona ou não , tchê ?!... gritou um homem barbudo com ao metade do rosto escondido sob a aba de um boné velho e um óculos escuro . –Pô! Valeu! Respondi , ainda correndo com a mochila quase caindo dos meus ombros, calejados pela esfrega - prá onde vais tchê? - Prá Porto Alegre, senhor! _ Eu vou até Guaíba , na fábrica Aracruz . mas, dali é um pulo até Porto Alegre , valeu? _Bá! Valeu mesmo, vamos nessa! Na entrada da cidade de Guaíba o caminhão engasgou e o motor apagou . Desci , já eram quase vinte horas da noite, e como era normal no final de outono nessa região , já era noite escura. Despedi-me do caminhoneiro, não antes de perguntar se o "bom homem"queria alguma ajuda , agradeci a carona e andei na direção do centro da cidade e procurar a casa do cunhado de minha mulher e fazer uma breve visita a irmã dela. A Lúcia estava morando nessa cidade há muitos anos. Antes de chegar no centro de Guaíba parei e entrei em uma lanchonete . Tinha cinqüenta reais que estava poupando para os piores momentos da viagem . Empurrei a porta de vidro da entrada e entrei naquele ambiente agradável , limpo e quente para quem chegava da rua gelada... dava vontade de não sair dali por um bom tempo . A lanchonete era dentro de um posto de gasolina, por isso a presença de vários frentistas , espalhados pelas mesas , jogavam snoocker e bebiam alguma coisa de álcool . Estavam exaltados e seguidamente falavam de seus times de futebol, provocavam-se entre si. Sentei na banqueta do balcão na frente da atendente e senti imediatamente que não era freqüente , alguém desconhecido, sujo e de expressão cansada, entrar naquele ambiente, àquela hora. Pedi um café quente e um x-salada, a moça olhou-me com visível desconfiança , resmungou alguma coisa e foi servir o café. ...Pode ser com leite! Acrescentei e depois me arrependi, porque minha voz soou estranhamente alterada e áspera, chamando a atenção de todos os presentes. Talvez , estivessem pensando que eu era um desses assaltantes de posto de gasolina ao qual eram acostumados a enfrentar. Ingeri vagarosamente o meu café e saboreei aquele" x" gostoso , levantei , dei um pequeno arroto paguei a conta na caixa e não pude resistir a fisionomia hilária da garçonete feiosa e dei um sorriso um pouco sarcástico, pelo qual ela notou, quando cheguei na porta de saída dei um grande arroto, que até eu me assustei. Não deu outra, escutei uma frase bem conhecida... _ Chiqueiro , porco!!! Apressei o passo, para não demonstrar que estava correndo, para evitar algum problema com a galera e fui na direção de uma pracinha da qual vinha um ar úmido de praia e dei uma gostosa urinada.
Eu precisava lembrar o número do telefone do cunhado de minha esposa, senão teria que dormir mais uma vez na rua e naquela noite de final de inverno , nem os cães eram vistos nas calçadas. Fazia sete graus, e podia gear ; era típico na região . Achei o número , liguei várias vezes e ninguém atendeu o chamado, sempre dava sinal de que estava fora de área. Naquela noite conheci a entrada dos portais do inferno. Não sabia o que fazer e caminhei pelas ruas do centro, para não congelar os pés com o frio. Mas a madrugada estava por chegar e eu estava cansado , parei em frente de uma boate e como alguns vagabundos que estavam azarando perto da porta de entrada, sentei no motor de um carro , acendi um cigarro e na" mãnha" tentei me fazer desapercebido pelos marginais que fumavam maconha, me entrosando no meio deles . Aceitei um gole de cachaça de um deles e fizemos amizade, e depois quase fui obrigado a comprar uma trouxa da erva. A madrugada chegou cada vez mais gelada e fui percebendo que a "malandragem" estava indo embora aos poucos, e somente alguns mais "azoados", continuavam ali parados ...acho que também viviam na rua, porque estavam se aconchegando dentro de uns caixotes de papelão. Dormiriam dentro deles o resto da noite . Saí da frente da boate, quando vários casais começaram a deixar o local , uns embriagados gargalhavam e outros discutiam, quase a vias de fatos. Disfarçando , andei pelo lado da construção , olhei para ver se não estava sendo seguido e me encolhi em um canto escuro, tirei o cobertor da mochila , me enrolei nele e "liguei" uma erva que os vagabundos me venderam.Subitamente escutei uns tiros que vinham da direção da boate e escondi a minha pistola dentro de um buraco de tijolo . De repente , quatro vultos passaram correndo no meu lado e quase pisaram nos meus pés . Tirei uma boa baforada e aos poucos , a lua diminuta escondida na neblina ,pareceu aumentar cada vez mais , invadindo as sombras do meu cérebro. As paredes se fechavam lentamente em torno de mim, mas eu sabia que aquilo era o efeito da "coisa" e eu viajei esquecendo do gelo e da dormência dos meus pés. Súbito, dei um salto para o alto,resvalei na grama e caí numa poça de água , molhando a minha única calça ainda (que se possa dizer) limpa .Levantei novamente assustado e recebi um murro na cabeça , desmaiei e por alguns instantes e no meio da tonteira e da dor , escutei vozes de policiais que diziam: "_Vamos levar esse vagabundo mesmo , já que não conseguimos pegar aqueles pulhas! ".
Sete horas da manhã e eu saía da delegacia ainda tonto , depois de tentar explicar centenas de vezes , abaixo de tortura, que eu viera apenas visitar o cunhado de minha mulher e não tinha achado o endereço do mesmo. Depois de entregarem os meus documentos e dizerem que o cunhado da minha mulher estava vindo para a delegacia, em um descuido dos plantões , saí fora e fui pegar a minha pistola que havia deixado escondida e migrei na direção de Porto Alegre. Acho que o meu cunhado vai querer a minha cabeça , depois dessa. Já em cima da ponte do Rio Guaíba , na entrada de Porto Alegre , enquanto caminhava eu refletia sobre tudo que tinha acontecido e nem tinha percorrido um décimo das distancia do meu objetivo. Meus pensamentos pareciam um pequeno barquinho , viajando na carona das ondas de um rio caudaloso. Mais além , a "Selva de pedra" refletia nas águas turvas e algumas luzes na cidade ainda estavam acesas e tremulavam na neblina. Atravessei a ponte em meia hora e cheguei na rodoviária, em vez de ter seguido na direção esquerda , desviando a cidade . Tomei um bom café quente, e paguei com o dinheiro que o motorista do caminhão tinha me oferecido. Talvez eu encontrasse algum conhecido em algum ônibus que estivesse de saída para a minha cidade e pudesse pedir ajuda em dinheiro para a minha missão .Esperei até as dez horas no Box do ônibus que sairia para Pelotas , mas não vi ninguém conhecido e foi nesse momento que eu lembrei de um parceiro que morava há muitos anos em Porto Alegre,e casualmente lembrava de seu telefone. "_Paulo? " _Quem está falando? Perguntou ele com a voz um pouco irritada e denotando que estava ainda sob o efeito do sono e que tinha sido acordado. _Aqui é o Saulo de Pelotas , lembra? _ Eaí , Saulo, o que tu mandas? Estou de saída e não posso lhe dar muita atenção, desculpe mas pode adiantar o que tu queres a esta hora da madrugada, meu?... _Tudo bem! não é nada não, só liguei porque não tinha o que fazer mesmo, Tchau! Respondi e desliguei na cara dele. Aquela última frase e o tom de sua voz havia me irritado, porque muitas vezes ,eu tinha quebrado os "galhos " para ele e agora me recebia com aquela arrogância toda. Ele me ligara a poucos dias atrás me convidando para visitá-lo e agora me dispensava assim...Pô! Resolvi deixar para lá e seguir adiante. Comprei um All's e mais um maço de cigarro e andei na direção da "Freeway". Eram quase quinze horas da tarde , e o sol estava fraco , mas mantinha o clima morno e gostoso , inédito , pelo frio que havia feito durante a noite anterior e eu continuava caminhando, um pouco trôpego, pelo cansaço e pelo copo de cachaça , tomado á pouco em um boteco de beira de estrada. Era o terceiro dia de viajem . Apalpei o pequeno pacote dentro da mochila porque estava me machucando as costas pelo movimento de caminhar e lembrei que , dentro dele ,estava a minha pistola 7.65 e o meu presente que seria entregue para a pessoa mais importante do país. Nuvens negras avançavam rapidamente e eu ainda estava parado no meio da estrada, sem horizonte e já era noite ... para onde eu olhasse , tudo era deserto, escuro e amedrontador.Uma pequena luz tremulante no meio da imensa escuridão, dava-me a esperança de que poderia ter um abrigo durante aquela noite feia e de temporal eminente .Me arrastei um pouco mais rápido , procurando abrigo, mas a minha visão era de apenas umas dezenas de metros a frente .
Já começara a cair as primeiras gotas de chuva e o pânico começou a tomar conta da minha mente ; como um relâmpago , lembrei da minha infância quando eu e a minha mãe fugíamos procurando abrigo ;ela carregando o meu irmãozinho no colo sob uma velha capa de chuva, e com a outra mão puxava o outro meu irmão mais velho, hoje falecido. Enquanto isso o telhado de nosso chalé voava dezenas de metros para longe e sobre nossas cabeças , caia pedras de gelo quase do tamanho de laranjas . Trago essa neurose viva em minha mente, por isso o medo de temporais ... é pânico mesmo. Apurei os passos na direção da pequena luz , agora eu caminhava pelo meio da estrada para não tropeçar no acostamento ,eu seguia a faixa branca central . De repente surgiu um carro atrás de mim , piscava os faróis e ao se aproximar foi diminuindo a velocidade . _ Ei , amigo? Queres uma carona? O carro passou por mim e parou á uns trinta metros adiante, então corri , mesmo que a dor nas pernas e as bolhas nos meus calcanhares me fizessem quase urrar . _ Sim ! eu quero sim ...esperem! Quando cheguei perto da janela do motorista, eu vi o rosto do rapaz e algo me chamou a atenção, ele estava visivelmente drogado . _ Trouxa!!! Acha que eu vou deixar um vagabundo colocar os pés imundos no meu carro importado ? Babaca!!! – O maldito "Molecão"abriu a porta e arrancou de repente batendo em mim e eu rolei pelo asfalto molhado...o carro parou mais adiante e os outros quatro caras que estavam nos outros assentos , colocaram a cabeça para fora das janelas . _ Venha ! venha , agora é sério . Acabou a brincadeira ,venha logo para o carro ! Eu senti que eles estavam premeditando algo contra mim porque , mesmo parado, o motorista continuava acelerando o automóvel sem parar.Eu continuava caído no meio da estrada molhada. Um relâmpago forte iluminou o carro e notei que um deles tinha um revolver na mão. Pensei tirar a minha da mochila, mas naquele instante surgiu , como do nada, uma espécie de carroça ou carreta com toldo, puxado por dois cavalos e seguido de perto por um potranquinho. Era uma família de colonos Italianos . Vendo que a carroça tinha parado no acostamento, os moleques aceleraram o carro e desapareceram na escuridão da noite e quase abafado pelo ruído do temporal já chegado , dava para escutar os gritos deles: _ Vagabundos , filhos de uma vaca !!! ...e outras blasfêmias mais. _ Moço? Suba em nossa carroça ! aqueles marginais não vão incomodar...eles são da família de um ex-prefeito de Santo Antonio da Patrulha , uma cidadezinha á cinco quilômetros daqui . _Aceito ! não agüento mais a dor em meus pés e tenho muita fome ! Eu não sou marginal , venho da cidade de Pelotas e estou indo para Santa Catarina visitar meus parentes que moram lá e aproveitar as praias do verão que está chegando. Não tem problema "caraco", a minha casa está a tua disposição, meu amigo! Andamos aos solavancos por meia hora , mais ou menos , e enquanto eu tentava não sentir as dores no corpo , pensava apenas em dormir por muito tempo em uma cama macia , de preferência! Ao chegarmos em um humilde rancho , as pessoas me trataram muito bem e deram-me bastante comida e um grande e macio pelego de ovelha para dormir .Pareceu que eu fora engolido por um furacão para a dimensão dos sonhos . Onze e meia da manhã seguinte , alguém me despertou e mesmo indolente, levantei a cabeça e fui dormindo até um lavabo do lado de fora da casa . Escovei os dentes, lavei o rosto e enquanto o secava, alguém de dentro da casa me chamou: _Seu moço ! o almoço está na mesa . Um apetitoso almoço a italiana posto na mesa de madeira rude. Tinha lingüiça frita queijo , vinho polenta , carne de porco de várias formas , arroz e feijoada. Nunca tinha comido tanto em minha vida. A família tinha três homens , cinco crianças , e três mulheres . Estavam sentados em silencio em torno da mesa e olhavam admirados , porque todos já tinham almoçado e eu continuava enchendo o prato . A madona da casa arriscou perguntar em um tom de brincadeira; _ Será que vai sobrar espaço para a sobremesa? A qual eu respondi também sorrindo ; A fome é tanta e este é o melhor almoço do mundo ! a senhora é uma cozinheira que todos os reis italianos deveriam ter em seus palácios , com certeza! Na época é claro. Complementei ._ Obrigado, mas é a fome que faz o senhor achar tão boa a minha comida .Depois de me despedir daquela família que havia me recebido tão bem , coloquei o pé na estrada , levava na mochila bastante carne , queijo e pão ;, comida para dois dias, pelo menos. Levava também, água e vinho em garrafas de plástico. Ao me despedir notei que uma lágrima escorria na face da senhora mais velha , e ainda escutava ela dizer ; -Deus te leve e te proteja na sua caminhada, meu filho ! e eu fiquei por um longo tempo me perguntando; porque esse sentimento de mãe é despertado até por um estranho? O vazio do asfalto me causa arrepios de medo e sinto novamente um frio no estomago ...gostaria de voltar para aquele rancho de ambiente quente e agradável e cheio de carinho familiar, mas... Let's go! Seja o que for! Uns quilômetros adiante, tirei os tênis e caminhei descalço no asfalto frio, por durante seis horas , parando de vez em quando para descansar . Surgiu a minha frente um posto de gasolina onde vários caminhões cargueiros estavam parados em fila . Na entrada do pequeno restaurante dizia ; " Espeto corrido e ala minuta" e dentro , os motoristas bebiam cerveja , falavam alto e gargalhavam , esperavam o jantar , pois já eram quase sete horas da noite . Subi na traseira de um dos caminhões cuja placa era da cidade de Torres e escondi-me entre sacos de milho e soja , enrolei-me na lona, abri a mochila tomei uns goles de água, comi um pedaço de pão caseiro com lingüiça seca e queijo. – Ufa! Depois , dormi como um rei . Ao acordar levei um tremendo susto . Já eram cinco horas da madrugada. Eu não sabia onde estava, o caminhão estava chegando a uma cidade e vi pelo nome de uma Lanchonete , que a cidade se chamava Osório . Quando o caminhão parou em uma sinaleira . aproveitei o descuido e do motorista e desci pela traseira do caminhão .Mas , eu não estava disposto a ficar ali parado naquela esquina movimentada , sentado em um banco a olhar as pessoas passar embora fosse altas horas , o centro estava movimentado por causa da saída das boates. Eu teria que descobrir um local para dormir. Um albergue seria o ideal por não ter que pagar Perguntei a um transeunte e ele me indicou o endereço de um ,perto de onde eu estava . Ao chegar , tomei um bom banho, o cheiro de sabonete me fez sentir gente novamente . Tomei um café junto com alguns mendigos e andarilhos que recém haviam sido trazidos por uma camioneta da "Ação social". Os andarilhos , na maioria vindos de Porto Alegre para a temporada de praia e de campeonatos de Surf no litoral gaucho . Meia hora depois eu já dormia e sonhava com a minha família. No sonho eu sentia remorsos muito grande por tê-los deixado com fome e sem dinheiro , mas aos poucos fui me convencendo de que eles iriam procurar ajuda com o meu cunhado (irmão de minha mulher) . Ele morava sozinho em outro bairro de Pelotas depois de ter perdido seus pais e trabalhava em uma loja de eletrodomésticos... ganhava razoavelmente bem. No sonho tudo era estranho e abstrato. O cunhado teria se mudado para uma grande floresta, que era a praça central da cidade, e a minha esposa não conseguia achar a casa dele e se perdeu na mata com os meus dois filhos , Acordei chorando alto e um dos rapazes me consolou dizendo ; _Isso acontece sempre . É normal , Cara! Fica frio! O sol já nascera no horizonte leste e os andarilhos estavam lavando seus rostos para receberem o café da manhã . Bebi com sofreguidão pois era muito gostoso o café com leite , pão e manteiga , queijo e frutas. "Ora ! onde é que em um albergue ,os seus donos iriam ainda oferecer um lanche para a viagem, hein? pensei" Um dos andarilhos me convidou para irmos até a praia perto dali . Xangrilá tinha uma população razoável de moradores . Quando nós chegamos ,eram nove horas e percebi que aquele seria um perfeito dia de verão , muito quente, embora ainda fosse primavera. Graças ao aquecimento global. Nos sentamos debaixo de um "kiosque" e pedimos uma cerveja bem gelada. Pouco depois o nosso entrosamento já era bem legal e o diálogo fluiu livremente como se fossemos amigos há muito tempo. - Para onde você está indo, cara ? _ Perguntou-me o parceiro que se chamava Ricardo . _ Estou indo para Brasília a pé! Bá ! conta outra , meu ! Tá louco ? _ Juro, cara! É a minha intenção. _ Pô ! vais levar um mês para chegar lá. O que vais fazer em Brasília, cara ? - Bem, nem eu sei , mas pretendo falar com o Presidente . _ Hí ! muito maluco esse papo...é brincadeira né? -_Há, há ,há, há! Claro que é brincadeira ! eu vou até Santa Catarina visitar uns parentes e " arregar " as gatinhas na temporada de veraneio . Há ,há, há, há! Tu és um maluco mesmo, valeu ! eu estou indo prá Floripa também . Aceita um parceiro de viagem? _ Fechado , meu! Let´s go!
Bem , vou dar uma " zoada"por aí e nos encontramos, aqui no kiosque ao meio dia, está bem? _ Falou!!! Respondi ao cara e fiquei sozinho acabando de beber a cerveja. Passaram-se duas horas e eu ainda bebia cerveja ,embora tinha pensado comigo mesmo que; a quinta ,ou a sexta seriam as últimas . Subitamente ,escutei uma voz desesperada de mulher vindo da praia, ela estava pedindo socorro e as onze horas daquela manhã linda de céu azulado, em uma parte da praia onde poucas pessoas estavam á beira da água, alguém estava em apuros , pensei. O dono do kiosque olhou para mim e disse; É mais uma velha descuidada...deve ter deixado o netinho ir nadar em alto mar. Achei muita ironia vindo de uma pessoa que tratava diretamente com o povo de praia. Engoli o último gole de cerveja , pedi para ele guardar a minha mochila e corri na direção da praia , era uma linda mulher e aparentava ser rica , abracei-a ( intencionalmente)e perguntei o que estava acontecendo. _ O meu filho está se afogando! Por favor , salve-o, moço! Pelo amor de Deus!!! Corri até a água e não vi ninguém na superfície , de repente entre uma onda e outra, avistei a cabeça de um menino de cabelos loiro , ele devia ter uns cinco anos, apenas. Mergulhei antes do menino afundar e com algumas braçadas alcancei o corpo do garotinho, peguei-o no colo e andei rápido para a areia antes que uma grande onda nos alcançasse. coloquei ele no chão e fiz respiração boca a boca. Não demorou alguns segundos e ele vomitou a água que havia engolido . Começou a chorar chamando a mãe. Ela estava paralisada em pé na nossa frente , e eu não pude deixar de olhar, de baixo para cima , aquelas lindas e perfeitas cochas. Quando caiu a ficha e ela se jogou sobre o menino apavorada e ao mesmo tempo, aliviada por saber que seu querido filho estava a salvo, me levantei e saí de perto . Minutos depois , já refeitos e sentados na mesa do kiosque onde uma multidão se aglomerava em nossa volta, a mulher já telefonava para a sua mãe chorando e dizendo ; Mãe ! um verdadeiro anjo salvou o Eduardinho de ter se afogado . Não demorou muito para que surgisse um repórter da televisão e ele nos filmou. O repórter fez umas perguntas indiscretas tentando saber de onde eu era e o meu nome. Respondi ser de Pelotas e que estava indo para Santa Catarina . O meu parceiro chegou e começou a me " tirar" me chamando de" Herói de Xangrilá"e quase perdi a paciência com ele, mas pensei na parceria me pagando as despesas de viagem, e deixei para lá. Passamos o resto do dia " zoando"e bebendo cerveja e a noite fomos para uma pousada chamada " Nanimoana" na avenida Paraguassú 838. O parceiro pagou para nos dois e fiquei como uma pulga atrás da orelha; não sei se ele notou que eu era um "sem nada" e ele tinha jeito de abonado. A vida é cheia de surpresas , não é ? depois de jantarmos, fomos dormir e a cama estava ótima... mas , sonhei que estava sonâmbulo e estrangulava o meu parceiro porque ele teria falado mal do presidente ...estranho! talvez fosse porque eu tinha exagerado no jantar . Mas por outro lado ,eu nunca tinha dormido tão bem o resto de uma noite como aquela em minha vida , dormi "de cara". As dez horas da manhã , tomamos um delicioso café colonial e fomos para a estrada. Andamos pela avenida Paraguassú até o final e seguimos a esquerda até a BR 101.
Quando eu e meu parceiro caminhávamos na direção de Santa Catarina , pegamos uma carona de uma camioneta f-1000 dirigida por um homem barbudo e em sua companhia havia mais três homens . Fiquei muito tenso, porque nós fizemos um pequeno aceno pedindo carona , e imediatamente a camioneta freou ao nosso lado, arrastando os pneus. Durante a viagem o motorista foi nos perguntado pelo nosso destino e quando dissemos que íamos para as praias de Santa Catarina e não tínhamos onde ficar naquela noite , fomos convidados por ele para que ficássemos em seu apartamento e que eles também estavam indo para ficar uns dias na cidade . Perguntei se eram irmãos , e eles disseram que eram apenas amigos ...fiquei mais intrigado ainda. A noite enquanto bebíamos cerveja, nossos anfitriões iniciaram um diálogo tão estranho quanto as suas atitudes .
O senhor de barba muito espessa e negra , se aproximou de mim , quase que induzindo um diálogo particular , perguntou-me o verdadeira destino de minha viagem... fiquei muito mais tenso e devo ter demonstrado isso quando, uma gota de suor escorreu pela minha testa e parou na ponta do meu nariz, estava fazendo muito calor , excepcionalmente naquela noite . Limpei o suor com as costas de minha mão e respondi quase gaguejando; -Bem , tenho uns parentes que moram em Brasília e pretendo viajar até lá. É claro , tenho que ir muitas vezes de carona ,pois eu trouxe pouco dinheiro, entende ? Ao terminar de dizer aquelas palavras , levei um susto ao ver o homem quase dar um salto do sofá e falar : _Rapaz !!! você vai ser a minha salvação . Sou um representante do governo federal na área da agricultura e represento as "Embrapas" de todo o território . Eu teria que interromper as minhas férias para levar um relatório para o senador Quintanilha e você pode , com certeza , entregar a ele... é apenas duas folhas de papel e um pequeno frasco contendo sementes de soja aprimoradas como transgênicos . Se por acaso você perder ou extraviar , não tem importância , mas eu gostaria que fosse entregue em mãos e para isso , eu telefonarei a ele explicando porque eu não pude levar os relatórios , está bem? E leve esse celular ,caso você tiver algum problema ; esses quatro números , de quatro membros do governo de Santa Catarina,era para que eu usasse, quando precisasse de ajuda . Pelo celular o homem falou com o grupo de Santa Catarina e eles se colocaram a disposição, para quando eu chegasse em Brasília . Para isso ,eu teria que falar com um tal de Rogério Palmer ( arruda) . Ele me daria todo o apoio para entrar no congresso e no palácio da alvorada , para falar com o Presidente . Em ultimo caso , eu teria que jogar a semente nos jardins do palácio. Sinceramente , achei que eles eram traficantes ou coisa parecida e quando o homem colocou mil reais em minha mão, e disse que aquilo era para agradecer o favor, pensei ; _" Afinal , era apenas umas folhas de papel e um vidro pequeno e os mil reais dariam para eu ir festejando até Brasília "...aceitei. O meu parceiro estava sonolento e pediu para ir dormir em um sofá no canto direito da sala, o homem barbudo disse que de maneira alguma deixaria ele dormir no sofá e conduziu o parceiro para um quarto de hospedes nos fundos do apartamento. Segui os dois até o quarto e ao entrar notei uma sacada, e que estávamos no segundo andar . Era um apartamento de luxo , com certeza. Quando entramos o homem disse-me ; -Se já quer dormir, tem outra cama ali no canto . _Boa noite para vocês! Respondemos quase ao mesmo tempo , com a voz pastosa, demonstrando cansaço e que havíamos exagerado na quantidade de cerveja que bebemos .; _ Boa noite e muito obrigado pela acolhida , senhor! -Estamos aí para ajudar uns aos outros, não é verdade? Durmam bem!
Deitado , eu olhava para o teto e pensava porque aqueles homens nos trataram com tanta boa vontade e muitas hipóteses bailavam frente aos meus olhos ,como cenas de filmes da máfia americana ; Traficantes , assassinos , seqüestradores, ou até tarados sexuais ...e nos estávamos a mercê daquela gang , isolados naquele quarto de apartamento. Senti um ímpeto de fugir, saltar a janela do segundo andar, mas enquanto pensava caí em um sono profundo e somente acordei no outro dia . Acordem ! falou um dos homens que parecia ser o caseiro . O meu patrão mandou acordar vocês as dez horas e servir um café . Terei que fechar o apartamento , infelizmente, entendem ? - Ok! Meu amigo ! respondi agradecendo o homem vestido de terno escuro .
Eu e meu parceiro saímos a caminhar pela cidade de Florianópolis e após duas horas juntos , nos separamos. Pensei em comprar a passagem de ônibus para o estado do Paraná e seguir viagem depois do meio dia, então entrei em uma lanchonete para almoçar . O sol vinha da esquerda e iluminava o balcão onde estava sentada uma garota de uns dezesseis anos mais ou menos , suas coxas brancas pareciam transparentes, toda a vez que ela rodava o banquinho rotativo em que estava sentada e o sol refletia em sua perna direita. Fiquei quase paralisado olhando aquela cena linda e ela me olhava de "rabo de olho" e sorria silenciosa,maliciosa e sozinha, como se estivesse tendo pequenos orgasmos . Subitamente virei o rosto e reiniciei a comer, afastando com a ação , pensamentos diabólicos que tentavam a minha mente doentia . Então , de repente fiquei perplexo quando a garota chamou a minha atenção com um Pssssst ! quase deixei cair o copo de refrigerante na toalha branca que cobria a mesa . –Sim ! respondi abruptamente e engoli em seco sem que me engasgasse . – Moço ?perguntou a garota ainda sorrindo .__O senhor está de passagem por aqui? É que muitos turistas visitam a nossa cidade nessa época de início do veraneio. _ Realmente ,estou de passagem . Estou indo para São Paulo ,mas ficarei alguns dias apreciando as belezas dessa cidade e você está incluída nela , sabia ? - Valeu ! obrigada ! eu danço balé e amanhã receberei o diploma de dançarina profissional ... estou indo para o teatro agora, se quiseres, eu te levo até o centro e te mostro alguma coisa ...algum ponto turístico, se quiseres é claro!?... Vamos nessa ! Poxa , Você é muito legal mesmo ...acho que esta tarde linda de final de primavera está muito mais linda . _Isso é uma forma diferente de cantada ,é? _ Não, não ! saiu assim , sem pensar , desculpe! _ Ora ! normal , não dá nada! ...vamos . Naquele momento lembrei repentinamente da minha mulher mas não senti a falta dela e nem dos meus filhos . Eu parecia flutuar , sem tirar os olhos daqueles olhos azuis esverdeados , neles eu mergulhava cada vez mais profundamente, sem a preocupação de me afogar e morrer . As vezes eu tropeçava como um bêbado , de tanto deslumbramento . Ela sorria , como se estivesse pensando que eu era tímido e estava um pouco envergonhado ...mal sabia ela ,que eu estava apenas morrendo de tesão , pelo seus olhos, pelos seus lábios carnudos e cor de rosa, e pelas suas coxas maravilhosas. Caminhamos três quadras ladeira abaixo , eu nem percebia os prédios em nossa volta e dava a impressão que a atmosfera estava cheia de pó de ouro caindo de um fundo azul anil.( O que é isso!! )Voltei a tona . _O que estou fazendo , essa menina está me levando para dentro de uma fantasia ...? _ Como é o seu nome mesmo? Sensuale...apelido de teatro , mas o nome mesmo é Cibelle com dois èles . _ Maravilhoso ! e onde eu poderei arranjar um lugar para passar a noite, você sabe? _ Bem , tem um hotel legal , ali perto da praça central. E o teu nome qual é, posso saber? _Douglas ! menti . _ Bonito nome o seu , hein? _ Obrigado!
A menina voltou a me surpreender com uma pergunta muita sugestiva: _ Quer ir comigo até o ginásio onde eu ensaio ? Lá poderemos ficar a sós por umas três horas mais ou menos, e vou te mostrar alguns passos de dança , valeu? _ Claro ! será um grande prazer. Ao chegar pelos fundos de um imenso ginásio ,notei que o piso era tão liso como uma pista de gelo tal era o brilho do parquêt ._ UAU! Soltei um grito de admiração ao ver aquilo. -Dá até para patinar , não dá não? --_É claro gato! Venha comigo. Notei uma pequena transformação na atitude e na voz da menina , agora um pouco embargada pela ansiedade de um provável momento de sexo ...dava para sentir o cheiro no ar . Logo que chegamos e entramos em uma sala onde tinha vários armários e alguns bebedouros de água, ela se jogou em meus braços, enlaçou as pernas em volta de meu quadril e eu a peguei no colo pelas nádegas e com os quatro dedos da mão direita ,arredei sua pequena calcinha lilás e me afundei dentro daquelas carnes quentes e trêmulas. Um grito de dor, choro e êxtase foi a antecipação de um frenético vai-e-vem que nos lançou em uma outra dimensão de intensa volúpia. Amanhecia , e eu fui ofuscado por uma luz muito forte, vindo das cortinas de seda que se entreabriam e fechavam com a brisa morna da manhã. Eu já estava no hotel para onde eu me dirigi ,depois de" transar"por muito tempo com aquele anjo de menina . Fiz uma arrumação na minha mochila, desci as escadas e sentei na mesa para beber o café e pensei comigo mesmo:_...e essa dor repentina que estou sentindo no meio da canela...quase não suporto mais!? . Eu estava tão absorto em meus pensamentos e na dor, mas mesmo assim percebi que alguma coisa , ou uma energia diferente no ambiente , estava me perturbando. Virei o rosto lentamente na direção de uma mesa no fundo da sala, e ao passar o olhar pelos olhos de um "cara', ele desviou bruscamente o rosto , dando a impressão de que estava me cuidando pelos cantos dos olhos . Fingi não ter dado importância , acabei rapidamente de engolir o café , levantei , paguei a conta e saí do hotel na direção da rodoviária. Acho que joguei fora a minha touca vermelha e preta "xavante", quando deixei a jaqueta que o meu parceiro tinha me dado ,cair no poço do elevador do hotel . Bá! não tinha onde conseguir outra igual,...azar! pensei , compro uma do Corinthians ao chegar em "Sampa". O ônibus corria velozmente na direção do Paraná , encolhido no banco 54 eu olhava as nuvens passarem como fantasmas do passado, e entre elas, surgiram as imagens desfocadas, mas intensas, da minha família que eu deixara para trás...a saudade veio com toda a intensidade no meu coração e sem que eu evitasse , as lágrimas rolaram pelo meu rosto. Eu estava sozinho no banco, mas uma senhora sentada do outro lado , notou e olhou por debaixo dos óculos mas , foi desviando lentamente ...parecia que eu lia seus pensamentos: " Este senhor está chorando por alguma mulher". Se ela soubesse como era profunda aquela dor desconhecida que ultrapassava todos os limites da minha razão. No fundo , eu sabia que a após ter tomado a decisão de desencadear essa missão em minha vida , eu não teria a opção da volta...o futuro estava traçado fatalmente, com o lápis do destino, criado e elaborado por mim mesmo. Eu tinha adormecido e sonhava com a minha esposa ; ela estava deitada ao meu lado ,virada para a parede, e falava com a voz de quem estava entrando em sono , quase sussurrando ; Você sabe que o nosso filho está reclamando ,e diz que não consegue mais ir até o centro da cidade estudar ? sente dores nas pernas e muito cansaço . Acho que vou ensinar a ele o segredo da projeção astral para ele ir voando até a escola . Ele não vai precisar sofrer mais com a distância ... inclusive , ele poderá ir te ver , quando estiver na estrada , viajando na sua "santa missão", de fazer não sei o "quê", por esta estrada só de ida . _Não!!! Não!!! Acordei assustado e o ônibus encostou na calçada da rodoviária soltando o ar comprimido dos freios , dava a impressão que os pneus estavam esvaziando , mas logo voltei a realidade ..Já eram dezenove horas da noite e as luzes da cidade começavam a acender . Uma pessoa passou perto de mim e disse-me que eu estava gritando no ônibus , enquanto dormia. Fui até o balcão de uma lanchonete , pedi uma coca-cola , me espreguicei na cadeira estofada e soltei um suspiro bem alto ... ninguém esboçou a mínima reação , entediados que estavam, pela rotina diária de malucos que por ali passavam. Fumei quatro cigarros ,um após o outro , pedi uns pastéis para a viagem , coloquei na mochila e ao colocar os pastéis, achei um pedaço de queijo que havia ganhado dos colonos lá em Santo Antonio da Patrulha , no Rio Grande do Sul. Peguei o pedaço de queijo e comecei a degustar , ainda estava gostoso, sai caminhando devagar para o centro da cidade . Fiquei muito surpreso pela higiene das ruas e praças de Curitiba , já havia sabido através de amigos, alguma coisa sobre isso e agora eu presenciava ao vivo .
Enquanto caminhava rente a calçada ,observando tudo em minha volta , não percebi que uma viatura da polícia local se movimentava lentamente ao meu lado. _Ei moço ! está á passeio na cidade ? Muito surpreso com a acolhida , digamos , um pouco " exagerada "dos responsáveis pela segurança da cidade , respondi: _Sim senhor! pretendo ficar apenas uma noite em algum albergue qualquer ...o senhor pode me indicar algum , por favor? _ Claro , meu rapaz ! na segunda quadra à sua direita .Tem o nome de " Aconchego ". Você não se importa de nos mostrar a sua identidade , por favor? Um pouco contrariado , mas lembrando de que seria pior se os policiais me revistassem e encontrassem a minha querida 765 , mostrei a eles a identidade ...falsa . Estava tão perfeita que eles nem notaram , também pudera! _ Obrigado garotão ! espero que esteja falando a verdade sobre a sua estadia até amanhã , Até mais ! _ Até mais , senhores! ,...Ufa! Coisa de cidade de primeiro mundo , pensei . Andei até o albergue mas , algo não estava fechando direito . Desde que saí de Pelotas venho tendo a sensação de que tem alguém me seguindo , deve ser coisa de psicótico, dizem os médicos mas...sei lá! Ao entrar na porta uns dois metros , um homem negro , alto e com ar de superioridade flagrante no olhar , falou: _ Seja bem vindo ! Queira se dirigir aos aposentos de banho , por favor? Lá você vai encontrar todas as informações e o nosso regulamento ... o senhor deve ler com atenção . Se não souber ler , peça ao segurança de lá para que leia, por favor , caso contrário não poderá ir mais adiante. _ Obrigado! Seguirei as suas ordens . Depois de tomar o banho , me encaminhei para a sala , (salão) de jantar e vi que tinha quase uma dezena de andarilhos de vários lugares do país e muitos moradores de rua que iam em busca de alimento . estávamos jantando e tinha um silencio no ar , olhei para as fisionomias de todos e cada um deles olhava para seu prato com tanta concentração, que aquela cena mexeu com alguma coisa ruim dentro da minha mente ...lembrei de certa vez ,quando eu servia o exército na cidade de Jaguarão , eu havia jogado uma caneca de chá quente no rosto de um sargento. Levantei vagarosamente , ergui a minha caneca cheia de suco de mamão e procurei entre dezenas de "Caras" , aquele que tivesse a fisionomia mais apropriada e joguei a caneca de alumínio .Dez horas da manhã no hospital universitário de Curitiba . Mexo somente os olhos na direção de onde vem uma luz forte e sinto uma dor intensa nas costelas . O enfermeiro de plantão chama a minha atenção para que eu fique quieto, e eu pergunto a ele o que havia acontecido comigo . _Você foi agredido por várias pessoas em um albergue ,mas não foi encontrada nem uma fratura ...dá até para jogar futebol ,amanhã , é claro! O doutor vai liberá-lo á tarde , com certeza! Está chegando o seu almoço . Aproveite que hoje tem sopinha , há,há,há! _ Valeu , amigo ! _Há, valentão ... o médico chefe de plantão, quer saber se o senhor quer formalizar queixa contra os seus agressores ? _ Não ! de forma nenhuma. Não vale a pena , não. Estou bem, obrigado! _ Este hospital é muito bem conceituado na cidade e no Brasil ,e não é nada produtivo, alimentar qualquer tipo de escândalo, por isso agradecemos a sua compreensão . Os seguranças do hospital serão punidos exemplarmente . _ Ei ! que história e essa !?...afinal não foram os seguranças do albergue? _ Cara, é uma história bem complicada e acho melhor você deixar assim mesmo. Falou? Você fumou um barato muito louco, Cá entre nós , deixa prá lá ! _ Tudo bem. Deixa prá lá , respondi ainda um pouco confuso . Eram cinco horas da tarde e eu saí caminhando lentamente do hospital e procurava lembrar se tinha fumado mesmo um" barato " antes de entrar naquele albergue , mas por mais que eu tentasse lembrar , não conseguia . _Qual é? Pensei , estou ficando com amnésia ...será? - bem de qualquer modo eu tinha que me esconder da policia ,pois tinha prometido a eles que iria sair da cidade naquele mesmo dia, e ainda por cima estava todo quebrado. Eles iriam me colocar em "cana" com certeza. Abri o fecho da minha mochila e procurei a minha pistola , estava bem no fundo da bolsa e" mocozado" na sombra de uma árvore de uma praça escura, abri o tambor e tive uma surpresa ao ver que; de sete balas , agora havia apenas uma . Alguém estava brincando comigo. A surpresa maior foi quando desenrolei um pequeno embrulho e caiu no chão uma quantidade grande de maconha ...joguei tudo fora, rapidamente e corri apressado chorando de dor, desci para uma estação de metrô e misturei-me a multidão de torcedores que iam para um jogo de futebol . Mais tarde descobri que ia ter um clássico entre o Paraná e o Curitiba . Não subi no trem , sentei,peguei um jornal que fora jogado fora em cima do banco e um li um anúncio sobre uma peça de teatro que estaria acontecendo naquela noite no teatro Guaíra . Eu passei toda a minha curta vida ,imaginando assistir uma grande peça em um grande teatro e essa era a oportunidade , mas eu nem sabia onde era o teatro Guaíra . Sabia que era em um local um pouco afastado da cidade . Bem ! de qualquer forma eu não tinha dinheiro para isso (tinha que poupar ,para chegar até Brasília)e teria que abandonar essa cidade imediatamente. A calça de brim que eu estava usando tinha seis bolsos , era cheia de parangolés (enfeites) , eu sempre me vestia como os jovens , desde a época dos hippies e as pessoas que me conheciam diziam que eu "me achava " ( dava uma de garotão ),embora tivesse cinqüenta e cinco anos. Na minha cabeça eu era um garotão mesmo , porque eu não aceitava a rotina normal do dos velhos. Eles sentavam nos bancos das praças e falavam de doenças e de alguém que havia morrido . Detestava velhos "chavões" e não gostava de diálogos que passassem de três minutos, e de assuntos que não fossem de alto astral. Enfiei a mão no bolso ,abaixo do joelho e fiquei surpreso ao ver que incrivelmente , eu ainda possuía ...OITOCENTOS REAIS!!! Yuuuupi! Descobri onde era a rodoviária e comprei uma passagem até São Paulo , tive que esperar uma meia hora e para não ficar muito exposto , esperei dentro do ônibus , uma sucata da empresa" Onda" , que vinha do Rio Grande do Sul e ia para o Rio de Janeiro . Logo ,estávamos balançando na estrada e a cada buraco que o ônibus passava, parecia que o osso do púbis era amassado . A madrugada chegou e dormi um sono tão profundo que nem senti mais as dores nas costelas , eu havia tomado o dobro dos antibióticos que o enfermeiro tinha me dado .Muitas horas se passaram, e quando o ônibus estacionava nos " paradouros" pelo caminho, eu nem sequer levantava do banco a não ser no último, antes de chegar ao destino ...Terminal Rodoviário Tietê .
Voltando no tempo, três dias atrás...
Sede da Polícia Federal . Reunião expressa da cúpula de segurança nacional (SNI)
Senhor Otavio da silva nogueira (SNI) "_ Senhores ! estamos tendo um problema de nível nacional , nunca antes visto a não ser na época dos governos militares . Recebemos relatórios do Rio grande do Sul e do estado de Santa Catarina , de que; um psicopata ou " terrorista ", está deixando um rastro de vitimas em seu caminho e nem um órgão de inteligência daqueles estados, conseguiram rastrear o individuo e nem sabem o seu paradeiro . Como trata-se de um homem que muda de cidade para outra e não se demora muito em nenhuma delas ...enfim . Porque temos a ver com isso ? Bem senhores , já ouviram ou leram , com certeza alguma coisa sobre o "Chacal"? o terrorista venezuelano ? pois bem , agora nós temos o nosso, ou os nossos ,porque alguns dos nossos agentes, já no encalço dele ,acham que uma facção das Farcs Colombianas , estão por detrás disso . Estamos aqui reunidos para elaborar um plano de ação na caça a este maníaco, ou sei lá o que ele ou eles são . O motivo maior é o que este homem disse para duas testemunhas; uma no Rio Grande do Sul e a outra em Santa Catarina; Falou que estava se deslocando até aqui, em Brasília, para entregar um presente ao Presidente . Imaginem os senhores, que tipo de presente um possível terrorista que atravessa vários estados, teria para entregar ao Presidente ? Portanto , devemos ativar imediatamente as nossas forças policias, secretas ou não, e parar de qualquer forma , esse maluco. São ordens do ministro responsável pela Segurança Nacional . Alguma pergunta ? " Então , vejam nesse vídeo todos os crimes que consta nos relatórios ,colocados na mesa em frente de cada um dos senhores, .Tentem descrever um perfil averiguando todos os métodos usados por esse homem, ou homens, para que possamos chegar a "ele", antes que chegue até o Presidente.
Estas cenas foram gravadas das câmeras de um prédio em Porto Alegre , vejam que um homem , com uma espécie de cobertor envolto no corpo , espera na porta de um prédio e quando a vítima chega , ele conversa com ela como se a conhecesse e logo depois o alveja a queima roupa . Essa é a única imagem que temos desse homem . mas o que ligou esse fato a outros , como em Santa Catarina, foi outras vitimas que ele deixou no percurso, entre Porto Alegre e Florianópolis . Foram encontrados três jovens mortos dentro de um carro incendiado perto de uma praia chamada Xangrilá, no interior do Rio Grande do Sul , e uma família de italianos , também a alguns quilômetros daquele local. Mas os crimes de maiores repercussões , foram em Florianópolis onde a policia dessa cidade procura um , dito "Monstro" que, ao estuprar uma garotinha de apenas treze anos, matou-a e colocou seu corpo dependurado na sustentação de uma sesta de vôlei , dentro de um ginásio . Foi encontrado , também em Florianópolis o corpo de um rapaz , andarilho, que viera de Porto Alegre passar o veraneio naquelas praias. Estava nu dentro de uma lixeira e tinha várias perfurações de algum tipo de chave de fenda por toda a coluna vertebral , como se tivesse sido acupunturado ...detalhe; faltava a metade da orelha esquerda , detalhe esse que esqueci de dizer , quando falei da menina estuprada. Também faltava uma orelha, à esquerda. Esse rapaz, que fora encontrado morto em uma lixeira, foi o elo de ligação dos crimes desde o Rio Grande do Sul . _ Senhores ! mãos a obra . Vamos trabalhar ! temos que deter o psicopata, já!
SÃO PAULO (Capital, São Paulo )
Acidade de São Paulo estava envolta por uma intensa neblina e amanhecia aumentando o transito já engarrafado desde então , como de rotina . A maior cidade da América Latina, nunca dorme. O vulto de um homem se alonga e reflete pelas poças de água, dezenas de metros adiante . O homem poderia ser um dos milhões de transeuntes que passam apressados, pelas avenidas da grande metrópole , mas este, caminha calmo e para diante da praça Osvaldo Cruz e observa a estátua de um índio solitário á pescar . Depois de ficar por um instantes ,ele caminha alguns passos até a porta do hotel Real Paulista , olha para cima e começa a subir uma escada de mais ou menos ,sessenta graus de inclinação e quarenta degraus . Ao chegar no último degrau o homem que veste um casaco preto e calça jeans , dá um suspiro prolongado demonstrando cansaço pela subida _ Boa noite , senhor ! desejo um quarto para que eu possa repousar da longa viagem desde o Recife , se tens algum a disposição eu agradeceria muito. – Sim , senhor ! pretende ficar até quando ? _ Até depois de amanhã e já quero deixar pago , está bem? _ Claro! O senhor quer assinar aqui por favor .
"As lendas nascem durante a noite , quando os anjos , os demônios, os morcegos , os répteis rastejantes , as feras selvagens e os seres humanos , saem a vagar , caçando e destroçando suas vítimas ".
Durante a noite , enquanto fumava , deitado na cama limpa e levemente perfumada, com se ali uma mulher tivesse passado a noite anterior , deixei a mente fluir , olhava para um ventilador no teto do quarto e pensei em um poema que havia escrito , certa vez ...
"Megalópole São Paulo , de dia aflora a vida louca , e a noite você é bandida . Onze milhões de estranhos humanos , deslizam por tuas entranhas , uns procurando a sorte , outros trabalham o tempo , enquanto muitos encontram a morte . Megalópole , camaleão irado , varia as cores da ilusão , chama para o teu ventre a presa que imprudente é sugada e fisgada pelo teu arpão . São Paulo , não para de crescer, alimenta de ódio e de paixão e seu estômago tem espasmo para vomitar , mas não consegue ...ai de ti ,cidade prometida! "
SEXTA FEIRA ( 22h)
Uma grande e ameaçadora nuvem negra se deslocou dos países andinos na direção do Brasil, encobrindo todo o país . Essa nuvem noturna invadiu a maior cidade da América latina. Estava formado um ciclone nunca antes visto sobre uma cidade ... Era noite de sexta feira e a população de São Paulo que passava pela Avenida Paulista , parou para assistir a chegada inesperada de milhões de morcegos . Eles sobrevoavam os altos edifícios , contornavam e iam se acomodando nas torres de comunicação das televisões e elas eram encobertas rapidamente , enquanto outros milhares , faziam vôos rasantes assustando as pessoas e fazendo-as se esconder no interior de seus carros , lojas , bares e shoppings . Uma multidão de mendigos; adolescentes , adultos e velhos surgiam, de trás dos muros, debaixo dos alpendres , viaduto, casas abandonadas e guetos ; era milhares e seguiam trôpegos na mesma direção...eram vultos de formas humanas que se esgueiravam, extremamente descontrolados e raivosos, mas com a mesma obsessão..."Voar". Eles se concentram e se amontoam uns sobre os outros acendendo seus isqueiros á espera da chegada de seu mestre maior e da droga prometida ,que viria de uma outra dimensão , conforme fora anunciado pela prolongada propaganda feita nos subterrâneos escuros do baixo mundo. O "Voar" . A droga prometida por um grande e místico líder secreto de todo o planeta ...essa noite seria conhecida como " A noite dos Morcegos" . A noite que traria o guardião do século para todas as gangues. Esfarrapados , ansiosos e com um brilho alucinados nos olhos , murmuram palavras desconexas e gírias, somente entendidas por quem fizesse parte do submundo . Nessa noite nem mesmo os grandes chefes vindos de vários países , sabiam como, e de que forma, o líder mundial dos morcegos iria chegar até o " grande encontro combinado no " Parque Trianon". Eram dez minutos para a meia noite e algo estranho e inusitado começou a acontecer na Avenida Paulista ... os milhões de morcegos, antes barulhentos, agora estavam silenciosos , antecipando um fato surpreendente a todos os humanos presentes e já um pouco apavorados . Centenas de carros da policia metropolitana e homens da brigada militar , cercavam seis quarteirões da Avenida, mas esperavam não terem que entrar em confronto com milhares de marginais reunidos em um só lugar... Todos olhavam para o alto , inclusive os próprios morcegos e de repente abriu-se uma nuvem e surgiu o vulto gigante de um helicóptero negro e um enorme morcego com formas humanas estava suspenso por uma escada de cordas ... era a visita tão esperada pelos marginais da cidade. O grande líder que chegava , como todos os seus seguidores esperavam...em alto estilo. A cidade de São Paulo jamais seria a mesma. O helicóptero está pairando sobre o Museu de Artes de São Paulo ( MASP) e o "morcego" está suspenso , prestes a descer no teto do prédio como Batman, o herói americano. Um vulto se esgueira furtivamente e aponta uma arma à dois metros dos testículos do homem vestido de morcego... apenas um tiro...bala dum dum , abafado pelo ruído da aeronave . O povo lá embaixo , não vêem as feições contorcidas de dor do Rei das drogas das maiores facções das Américas .Todos esperavam que; após descer da escada de cordas suspensa no helicóptero, o " Rei" surgisse na sacada do museu e acenasse para a multidão , mas os minutos se passaram e uma espécie de torpor tomou conta dos espectadores e aos poucos, um rumor crescente foi aumentando e tornou-se forte como o ruído de um trovão. "_ Queremos o nosso rei!"_" Queremos o nosso rei"! Aproveitando –se da confusão , os policiais juntamente com o exército, iniciaram uma farta "colheita", de marginais e assassinos que dariam para encher dois campos de futebol.
SEDE DA SEGURANÇA PÚBLICA DE SÃO PAULO
Algo intrigava a polícia secreta de São Paulo e por duas semanas ,depois daquela noite que transformou a Avenida Paulista em uma praça de guerra, o Coronel Josias Percinatti ,da frente de investigações secretas do governo paulista, juntamente com o Secretário de Segurança Publica Carlos Rossati e o Chefe do SNI , Serviço Secreto do Governo Federal , senhor Otávio da Silva Nogueira reuniam –se diariamente para decifrarem um enigma que os deixavam intrigados, desde o bizarro acontecimento da " Noite dos morcegos".
- Senhores! alguma coisa muito estranha aconteceu naquela noite, e até hoje não me deixa dormir...é quem teria assassinado o grande chefe do tráfico mundial e como ele (ou eles) sumiram, e mesmo toda a corja de traficantes de dois continentes, não conseguiram colocar as mãos no assassino...?
-Senhor Otávio , eu não sei , mas tento adivinhar as razões de alguém que não seja da polícia, querer matar o Rei do tráfico internacional e não se identificar como um possível sucessor do aniquilado monarca . _ Não, não ,não , senhor ! Acho que isso só pode ser coisa de um psicopata ou ...esperem ! vocês não assistiram o filme americano, "Guerreiros da noite"? - O chefe de uma gang atira no grande líder da cidade, enquanto ele fazia um discurso para unificar todas as gangs e dominar Nova York ? - É ! pode ser, mas devemos ter muito cuidado em tirar conclusões precipitadas , para não confundir as investigações, não?
MINAS GERAIS ( Cidade de Belo Horizonte)
Eu estava chegando em Minas Gerais e estava muito cansado e deprimido. O meu cérebro estava passando por uma verdadeira metamorfose e tudo que eu via à minha frente era questionado e colocado em dúvida , como se as paisagens que eu via eram apenas parte de um sonho .De repente, eu sentia um medo desesperador de algo que ainda não sabia discernir o que era , Tinha a nítida impressão que uma força invisível e ameaçadora seguia- me passo a passo . Eu nunca havia sentido isso e como se abrisse uma cortina em minha frente , surgia as imagens de minha família , minha esposa e meus dois filhos e então dava-me uma vontade de chorar convulsivamente sem parar ...questionava-me sobre a loucura de ter inventado essa peregrinação idiota que; sem sombras de dúvida sairia muito caro , no final dessa viagem (sem volta?). Milagrosamente eu ainda tinha duzentos reais que aqueles "Caras " de "Floripa", tinham dado para que eu entregasse a encomenda para alguns políticos, no Palácio do Planalto . Comprei uma passagem direto para Belo Horizonte , havia lembrado de um amigo de infância que morava naquela capital pensei em ficar uns dias , até recuperar as energias para prosseguir viagem ao meu destino , agora bem próximo. Quando desci na rodoviária, senti uma espécie de tontura, a qual culpei a fome, mas logo descartei ao fazer um teste de pressão com um senhor que trabalhava na rua e descobri que a minha pressão estava quinze por sete e eu estava suando frio . Droga!!! Estava com o telefone do meu amigo Hamilton e liguei para ele e não demorou nem quinze minutos para que ele chegasse onde eu estava esperando. _Eaí, Mano? Que bom te ver! - Eaí , Hamilton? Tudo beleza? – Rapaz! Não acreditei quando atendi o seu telefonema não, cara. Vamos , entre aí e vamos lá pra casa , todos estão esperando por você para almoçar ,e não é não? – Vamos nessa que estou com a fome do "Caramba", meu!.. Depois de mais ou menos meia hora andando na direção norte da cidade , finalmente chegamos na casa ,onde a esposa dele já nos esperava no portão com seu sorriso espontâneo , me cumprimentou e convidou para entrar , pois a cozinheira já nos esperava com almoço pronto e pelo que eu notei , aquele foi preparado especialmente para me esperar. --Mas, me conta como é que resolveste viajar para essas banda, tchê, de uma hora prá outra , hein? -Rapaz! Eu deixei um bilhete para a minha família em cima da mesa , dizendo que estava indo visitar um amigo na Argentina e acabei vindo parar aqui na sua casa ...enfim. Mas , me apresenta à seus filhos , embora eu já tenha conhecido o garoto quando ele era bem pequeno, porém sua filha ainda não . Depois das apresentações a Martinha ,esposa do "Jacare´, convidou-nos para irmos para os fundos da casa onde tinha duas garagens e uma amplo espaço , estava muito calor e ali corria um ar bem mais fresquinho, a minha pressão já tinha voltado ao normal e eu nem quis preocupar o meu amigo. Dei uma olhada por cima do muro e vi que tinha trilhos de trem e o Hamilton me disse que; de meia em meia hora ,passava um trem que se dirigia até a fronteira com Goiás.
Cinco dias se passaram e eu já havia sido apresentado a todos os amigos do meu amigo Hamilton . Percorremos vários bairros de Belo Horizonte e ele me mostrava todos os pontos turísticos de "Belô"mas, já era chegado a hora de eu fazer a minha última viagem até Goiás ,e cumprir a missão que deveria chocar toda a população do meu " maravilhoso" país. Embora eu amasse o meu país ,eu torcia para a seção da Argentina porque há mais de vinte anos o povo era enganado pela "Orgia viciante" do futebol e das drogas livremente liberadas por todo o país. Induzidos eles "esqueciam"de estudar, para abrir a consciência e, como hipnotizados , sempre elegiam os políticos que os exploravam até a morte... morriam sorridentes e felizes, como passistas de uma escola de samba na passarela.
Meu amigo me levou até um casal de velhos cegos nas esquinas das ruas................ e fui bem recepcionado por eles. _ Uai gente!!! Não é que temos mais um "Gueucho" aqui ? Como vai você ?Gostou da nossa cidade,não? Embora eu tenha notado a ironia em suas palavras , respondi: _Muito prazer em conhecer vocês ! São bem como o Hamilton falou ... de bem é claro! A cidade é muito legal...grande né? Pô! _É meu querido! . Falou o senhor de aspecto mais velho..._ O senhor sabe que além de ser cego leio a mente das pessoas e você está com problemas não?...desculpe me intrometer , já me intrometendo mas, eu tenho sensações e capto a energia das pessoas, sabe? _ É , mas eu não tenho problemas nenhum, á não ser de falta de dinheiro como todo o mundo, sabe?... _ Sei não moço! Mas seja bem vindo rapaz! Eu estava brincando, porque o"Pelotense" ( aliás) Hamilton havia me dito que o senhor era muito bem humorado, por isso tive a ousadia... O meu amigo Hamilton interrompeu ironizando a última palavra do velho:_...Ousadia , hein???Coisa de boiola!!! O senhor cego complementou a sua frase: ...ousadia sim! Eu tive dois anos de faculdade ... no Carandirú . Ha, há, há, há!
Cheguei á conclusão de que eles eram realmente bem humorados com a vida , apesar de ...! Desculpe Õh! _ Desculpe! _ Não , agora fiquei envergonhado e resolvi devolver os cinco reais que peguei da sua pasta. _ Pegou não!... porque eu não tenho cinco reais sou cego mas não sou bobo, não? Há, há, há,há! Caímos todos na risada e apertamos as nossas mãos, conversamos uns dez minutos e o meu amigo contava cenas de brincadeiras que fazíamos em minha cidade quando ele ia visitar seus pais no Sul do País.
Naquela última noite na casa do amigo eu não conseguia dormir, estávamos a sós porque a sua esposa tinha ido visitar sua família no interior e os dois filhos dele estavam viajando, a menina para o Canadá e o filho para Angra dos Reis no Rio de Janeiro . Assistimos filmes até as quatro horas , falamos um pouco da época da ditadura quando servíamos o exército na fronteira com o Chuí , das nossas missões nada honrosas , e ele me disse que havia sonhado que estava morrendo por estar com as cordas do violão do Bob Dylan enrolado no pescoço e ela ia apertando cada vez mais...e finalizou dizendo: _ Que trem estranho! – Que trem bão sô! Arrisquei uma colocação como se fosse um o sotaque de gente do interior mineiro , depois fomos dormir. Coloquei um cobertor no sofá e me acomodei enquanto ele foi para o seu quarto ligou o som um pouco alto escutando musica do Bob Dylan. Duas horas depois eu já estava na rua andando de taxi na direção do aeroporto. Eu não gostava de despedidas e aquela seria a última, então resolvi deixar um bilhete dizendo; _ Espere por mim , para juntos irmos viajar, valeu?
As vezes eu gostaria de saber quando iniciou a minha loucura total se; ao resolver fazer essa viagem sem volta ou quando com apenas doze anos eu me tornei um psicopata que enforcava cachorros por dinheiro e talvez sentisse até prazer . Fazia isso para uma família de alemães, os Chemechel's e na época eu trabalhava na plantação de aspargos e me induziram a cometer essa maldade com os cães ... afinal aquela família era de remanescentes dos alemães fugitivos da segunda guerra mundial .
BRASÍLIA ( Distrito Federal )
A Cúpula da Policia Federal de Brasília se reúne para discutir um"Alerta Delta" para investigar os alertas de todas as delegacias conjuntas , incluindo a Policia Secreta do governo (ABIN) comandada por Wilson Trezza.
Um homem ou mulher, estaria se dirigindo á Brasília para praticar algum ato contra o Presidente ou aos políticos do Congresso Nacional e diziam em seus relatórios que ele estava sendo patrocinado por uma rede de terroristas ,ainda desconhecida e com intenções obscuras para "apagar" dois Senadores e um Deputado Federal , ambos de partidos diferentes .
Este, ou estes terroristas são frios , calculistas e canalhas , não respeitam nem os adolescentes ...matam sem piedade como fizeram com uma menina que foi encontrada dentro de uma sesta de wolley, toda esquartejada e com o seu pé direito , cortado na junta do tornozelo enfiado em sua boca , a qual estava rasgada até as orelhas . Esses detalhes foram especificados por um dos chefes da policia de Minas Gerais á Policia de Brasília . Imediatamente foi alertado todas as polícias , Agentes Federais, Exército e segurança especial do Presidente para deter o (s) terrorista (s) que agora estariam dentro dos limites da cidade e porque não ,do Congresso Nacional ou palácio do governo. Na realidade , ninguém sabia quem era e nem com quem estavam tratando, e nem mesmo a sua verdadeira identidade . Os dias foram se sucedendo e nada acontecia ,deixando todos mais preocupados em saber qual seria os próximos passos dos " terroristas".
Se aproximava a" Semana da Pátria" e isso era motivo de mais atenção de toda a polícia de Brasília . A Policia secreta tentava pensar como os terroristas e tudo deixava crer que o dia sete de setembro seria o dia ideal para um atentado , quando estariam desfilando pela avenida principal dos três poderes ,todas as autoridades , civis , militares e religiosas do país, em demonstração de patriotismo e devoção ao país , coisa que a maioria da população do Brasil não participavam da mesma emoção.
O dia Sete de Setembro nasceu radiante, com o céu totalmente azul anil e livre de nuvens , havia uma notável energia de alegria planando pelas ruas calorentas da cidade , mas nos termômetros , cosntava uma grande baixa na umidade relativa do ar deixando o ar quase irrespirável .
Turistas de todo o país chegado no dia anterior á cidade ,se deslocavam calmamente a pé na direção da "Praça dos Três Poderes",e não sabiam que uma nuvem ameaçava até mesmo suas vidas . Os ministros da Marinha , Exército e Aeronáutica haviam decidido entre si que mais de dez mil homens fossem destacados em trajes civis e armados , para atuarem no meio da multidão na procura de possíveis terroristas infiltrados ...mas, não tinham nem mesmo uma descrição anatômica das pessoas ao quais procuravam .
Os próprios comandantes de armas e as autoridades militares que estavam sobre o palco assistindo os desfiles ,usavam coletes a prova de balas , menos as autoridades civis que nem ao menos sabiam que estavam expostos em zona de perigo. A Cavalaria desfilou e os cavalos garbosos e imponentes arrancavam aplausos do povo , estes também ignorantes da situação bizarra daquele dia de festa . Depois veio o desfile de carros de combate ; mísseis , canhões de longo alcance,armas de guerra de grosso calibre ... enquanto no céu , helicópteros e aviões atômicos. Escreviam nos céus mensagens de paz , paz essa que naqueles momentos, não fazia parte das mentes dos militares e governantes do país.
O Presidente sorria e parecia que seu sorriso havia sido paralisado próximo das orelhas ,talvez pelo nervosismo ou pela certeza de que ; se nada acontecesse naquele dia , no outro dia estaria rindo muito mais ainda ..., motivo ; estaria viajando para os Estados Unidos á convite do presidente americano para que passasse três dias de férias na fazenda de descanso.
Já eram três horas da tarde e tudo corria normalmente , a população se divertia nas praças ,as crianças comiam algodão doce e centenas de outras guloseimas oferecidas nas bancas instaladas ao público ,enquanto os homens andavam com suas esposas comprando artesanato , em sua maioria vinculadas á Semana da Pátria. Subitamente , centenas de militares invadiram a pista de apresentação e desfile das tropas e tomaram posição de confronto , tudo premeditado anteriormente em caso de possíveis problemas referentes a ataques terroristas. Assustada e sem entender nada , a população começou a se retirar apressadamente das redondezas do palácio do planalto . O presidente já havia saído e dentro do palácio dava ordens para o chefe da sua segurança para que trouxessem seu carro blindado rapidamente, e pouco depois o veículo subia a rampa com as portas abertas e rodeado de seguranças de armas em punho . Em uma sala do segundo andar, o chefe do serviço secreto discutia sobre o acontecido ; - À duas quadras daqui , foi preso um homem armado de metralhadora ( mas era de brinquedo) , era um louco , mas ele declarou com essas palavras ; -" Seus idiotas ! enquanto vocês estão me prendendo, o "Cara" vai explodir uma bomba e matar o presidente...há,há,há ! Portanto ,acho que ele está, ou estava entre nós ,e a qualquer momento o desgraçado pode conseguir o seu intento.
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